Para quem joga Legion hoje, Alonsus Faol é apenas mais um seguidor, mas ele tem uma história bem longa.
A Primeira e Segunda Guerras (Warcraft I & II)
A história do jogo Warcraft II apenas menciona Faol como sendo o responsável pela criação dos primeiros paladinos de Azeroth. O manual do jogo tem o seguinte texto (tradução minha):
Conforme os escritos sagrados comandam que toda a armadura da justiça seja vestida na guerra contra o mal, Alonsus Faol – Abade da agora destruída Abadia de Vila Norte – convenceu os ministros eclesiásticos de Lordaeron a cingir tanto seus sacerdotes quanto seus seguidores com armas de guerra. Assim como os guardiões empunham armas de luz para defender os céus, da mesma forma devem os homens santos da terra estarem preparados para combater a maré de trevas que rapidamente se aproximava do sul.
Note que, na época dos jogos Warcraft I e II, a caracterização geral era de personagens que viviam em um mundo medieval de fantasia; os orcs e a Horda eram caracterizados como os vilões, o mal encarnado, que usavam até mesmo magia negra e necromancia para derrotar seus inimigos. Neste contexto, a Aliança representava o completo oposto – heróis capazes de auto sacrifício por um bem maior, e que recorriam aos poderes do bem (a luz) para combater as trevas da Horda.
Haviam os clérigos, que no jogo anterior (Warcraft, conhecido também como Warcraft I) eram os “curadores” dos exércitos humanos (o Warcraft I era apenas humanos contra orcs, sem as demais raças). O manual do primeiro jogo trazia o texto abaixo sobre os clérigos (tradução minha):
Conhecimento é a chave para o entendimento, e é com a esperança de que, tendo conhecimento dos nossos poderes, você entenderá como nós podemos melhor servir ao Reino. Eu rezo para que as palavras que se seguem o ajudem na nossa missão de libertar Azeroth da ameaça das hordas de orcs. Com relação às habilidades possuídas pelos clérigos da Abadia, eu sou muito versado. Os conjuradores [equivalentes aos magos no Warcraft I], porém, se recusaram a divulgar seus segredos, e portanto meu entendimento das complexidades de suas mágikas não é tão completo. Sucesso na sua luta.
– O Abade da Abadia de Vila Norte
Note como o texto é “assinado” pelo Abade, cujo nome não é comentado. Já no Warcraft II, porém, este Abade recebe um nome – Alonsus Faol.
No decorrer da Segunda Guerra, eventualmente a cidade de Ventobravo foi tomada pelos orcs, forçando os sobreviventes a fugirem para Lordaeron. E foi durante esse período de exílio que um cavaleiro de nome Uther conheceu o então Bispo Faol, que lhe serviu de conselheiro e mentor espiritual. A queda de Ventobravo fez Faol perceber que às vezes fé não era suficiente para combater as forças do mal no mundo. Ele decidiu criar uma nova ordem que pudesse combater o inimigo com treinamento militar aliado aos dons da Luz. Uther foi um dos primeiros a ser treinados, e a Ordem dos Cavaleiros do Punho de Prata – os primeiros paladinos – nasceram. Outros paladinos importantes aparecem nessa época, como Turalyon, que foi um dos “heróis” jogáveis do Warcraft II: Beyond The Dark Portal.
E essas citações sobre ele era tudo o que se sabia sobre esse personagem, que não aparecia nos jogos além das menções nos manuais. Para os fãs do lore do jogo, até então o nome de Alonsus significava o “criador” dos paladinos.
Warcraft III e a transição para o World of Warcraft
Quando o Warcraft III foi lançado, houve uma enorme revisão nos pontos básicos da história do jogo – diversos retcons – que ajudaram a dar forma à versão “moderna” da história do jogo que conhecemos hoje. Dentre essas mudanças, a mais significativa foi a história da antiga Horda: antes uma força das trevas que serviam apenas como os antagonistas malignos a serem combatidos pelos heróis das forças do bem, eles passaram a ser antigos escravos de uma força maligna muito superior, que os corrompeu, deformou e mutilou em uma arma a serviço do mal. Os orcs do Warcraft III eram escravos recém libertos do poder da Legião Ardente; e neste mesmo jogo eles iriam encontrar ao mesmo tempo a libertação e a redenção de seus atos, voltando aos antigos costumes de seu povo. Os orcs de Warcraft III deixavam de ser apenas os inimigos arquétipos de um jogo de fantasia simplista baseado na luta do bem contra o mal para serem mais uma das raças moralmente complexas de um contexto maior.
Mas eu estou me desviando totalmente do assunto original. Minha observação aqui é: Warcraft III se passa vinte anos depois do jogo anterior; não há menção alguma ao Alonsus nem à Abadia de Vila Norte; porém o fruto de seu trabalho é evidente no jogo, pois há paladinos, representados pela Ordem dos Cavaleiros do Punho de Prata, dos quais Uther, o Arauto da Luz era o principal.
Mais alguns anos depois temos o lançamento de World of Warcraft, que expande ainda mais as histórias iniciadas no Warcraft III e finalmente começa a organizar melhor o mundo de Azeroth e suas inúmeras histórias. No World of Warcraft original, haviam apenas duas menções ao nome de Alonsus. Uma era uma estátua e uma fonte em frente à Catedral da Luz da reconstruída Ventobravo, que homenageava seus esforços durante a segunda guerra. Nessa estátua havia uma placa com o seguinte texto (tradução minha):
Arcebispo Alonsus Faol
Patrono benevolente da Igreja da Luz
Apesar de ter começado suas boas obras em Stratholme, Lordaeron, Arcebispo Faol era um grande amigo do povo de Ventobravo. Nos dias negros que se seguiram à Segunda Guerra, ele ajudou a reformar a Irmandade de Vila Norte e arrecadou grandes contribuições para reconstruir a própria cidade de Ventobravo.
Esta Catedral permanece não apenas como um bastião da Sagrada Luz, mas como um testamento duradouro do espírito nobre e generosidade de um homem.
A segunda menção ao nome dele no jogo é a Capela Alonsus em Stratholme, certamente nomeada em homenagem ao homem que naquela cidade treinou os primeiros paladinos.
Com apenas estas duas menções o que se sabia com certeza era que ele havia morrido em algum ponto durante esses mais de 20 anos, embora sem mais informações sobre sua morte. Sobravam apenas a memória de seu nome e o seu legado.
Até o Legion acontecer.
Legion
Para surpresa dos jogadores da classe sacerdote que tinham memória suficiente para lembrar do Alonsus do lore antigo do jogo, eis que ele reaparece logo no começo da campanha dos sacerdotes, direcionando o jogador a buscar seu primeiro artefato, e depois revelando a existência de uma organização sem divisão de facções ou raças, o Conclave, onde sacerdotes diversos trabalhavam para o bem comum de proteger Azeroth.
O que descobrimos sobre ele com essas missões iniciais é que Faol aparentemente foi transformado em um morto-vivo, como tantos outros da população de Lordaeron fora durante a Terceira Guerra, e ganhou seu livre arbítrio de volta no mesmo evento que permitiu que os Renegados se libertassem do domínio do Lich Rei. Porém ele não é afiliado aos Renegados, aparentemente sendo neutro. Ele também revela que esteve trabalhando junto com Moira Thaurissan na luta contra a seita Martelo do Crepúsculo, e apresenta o jogador ao salão de classe dos sacerdotes, o Templo de Eternévoa, junto com Velen. Mais tarde, seguindo a campanha das missões de sacerdotes, ele se torna um dos seguidores disponíveis para o jogador.
Como no jogo já temos vários personagens sacerdotes de renome – Velen, Tyrande, Zabra, entre outros – fiquei espantando ao ver a decisão da Blizzard de “ressuscitar” (por assim dizer) um personagem tão antigo e obscuro. Ainda mais por ele ser um morto-vivo não afiliado aos Renegados. Talvez haja algum propósito futuro em trazer este personagem de volta… ou então foi apenas para adicionar mais variedade à lista de seguidores. Seja qual for o motivo, vale a pena conhecer um pouco mais o passado deste personagem.