Apesar da expansão ainda não ter acabado, estamos naquele período quando a maioria dos jogadores já fez tudo o que queria na expansão atual (muitos já terminaram Cidadela Fogo do Inferno, em modo mítico inclusive) mas a próxima expansão ainda vai demorar meses para sair. Então acho este um momento propício para olhar para trás e analisar como foi a experiência de jogar como sacerdote no WoD.

Antes de começar eu me sinto na obrigação de repetir o que eu já escrevi na página “sobre este site”: eu sou um jogador casual, como foco mais em PvE. Nesta expansão fiz PvP de vez em quando, geralmente em pugs de RBG, arena uma vez ou outra para ajudar uns amigos, sem me preocupar com rating. No PvE, foquei em fazer raids no modo heroico (não terminei o tier 17 HM/BRF porque comecei tarde, mas terminei HFC), principalmente como healer: a maioria das vezes como Disciplina, mas também joguei de Sagrado. E em umas poucas vezes joguei de Sombra também.

Tendo dito isto, escrevo a análise abaixo me baseando não só na minha experiência pessoal, mas também nas experiências de outros jogadores, que leio em fóruns como o HowToPriest e MMO-Champion.

Sacerdotes healers no WoD

Na expansão passada (Mists of Pandaria – MoP) as duas specs de cura ficaram tão desequilibradas que muitos amantes da spec Sagrado se sentiram obrigados a jogar de Disciplina para manter a competitividade. Quando Warlords of Draenor (WoD) ainda estava em testes, um dos objetivos dos desenvolvedores era de equilibrar mais essas duas specs.

Eu considero que esse alvo não foi atingido. Mas ainda assim, a distância entre as duas specs diminuiu mais no WoD que no MoP. Na maioria das situações os sacerdotes disciplina continuaram tendo um “desempenho” (leia-se números nos medidores: Recount, Skada, etc) melhor do que os sagrados. Mas a distância de um para outro não foi tão grande quanto no MoP. Há casos de jogadores de modo mítico que não abriram mão de jogar de sagrado, mesmo com o estigma; veja por exemplo esta entrevista, de antes do tier 18 (HFC), onde se discutiu a diferença entre as specs. O entrevistado que joga como sacerdote sagrado, Jak, também escreveu o guia de sagrado do HowToPriest e joga essa spec de forma competitiva.

Na minha experiência pessoal, eu contribuía mais para meu grupo de raid jogando como Disciplina do que como Sagrado; mas a isso eu também posso atribuir o fato de que tive mais treino e experiência como disciplina do que como sagrado. Mas digo que jogar de sagrado era mais divertido e gratificante do que jogar de disciplina, mesmo tendo um “desempenho” menor; disciplina ficou meio chato e repetitivo de jogar, na minha opinião, no WoD.

Disciplina

Durante o MoP, sacerdotes disciplina foram considerados “OP”. Pra quem é novo no jogo, isso é a sigla de “overpowered“, que pode ser traduzido (de forma livre) como “exagerado” ou “acima dos outros” (essa não é a tradução ao pé da letra, mas dá uma ideia do significado real da palavra).

E porque isso? Para resumir, durante o MoP, disciplina se baseava fortemente em dois pontos:

1. Efeitos fortes de absorção. Além disso, esses efeitos eram constantemente usados (como Couraça Espiritual sendo usado uma vez por minuto para aplicar “escudos” na raid inteira).
2. “Smart heal” muito forte, através da passiva Expiação. Este termo indica “curas inteligentes”, ou seja, que curam “por você”, exigindo pouca atenção. Exemplo: no MoP, cada vez que um sacerdote disciplina atacava um inimigo com uma magia de luz, o mesmo valor do dano ia para um membro da raid que precisava de cura. E o jogo sempre escolhia a pessoa que mais precisava de cura (estava com a “vida” mais baixa). É isso que caracteriza um “smart heal”.

Essas duas coisas combinadas fizeram com que disciplina fosse overpowered durante a expansão toda; a spec recebeu vários “nerfs” ao longo da expansão, mas mesmo assim continou OP (ainda que menos) até o final, a raid Cerco de Orgrimmar. Então, quando a Blizzard começou a planejar Warlords of Draenor, era claro que alguma coisa teria que mudar nessa spec.

E a spec mudou bastante do MoP para o WoD, mas infelizmente continuou um pouco “OP” (ainda que menos do que era no MoP). As mudanças na spec, de forma resumida, foram basicamente:

1. Diminuição da cura gerada por Expiação, até o ponto que a quantidade de cura gerada era desprezível.
2. Eliminação do “smart heal”. Além de Expiação curar menos, a cura ia para uma pessoa aleatória da raid, não necessariamente a que mais precisava de cura.
3. Couraça Espiritual transformado em talento, e efeito bastante diminuído.

Lendo as mudanças acima, dá a impressão de que os “problemas” com a spec estariam resolvidos, correto? Mas eles consertaram um lado e desequilibraram o outro. Durante o MoP, um sacerdote disciplina costumava usar Palavra de Poder: Escudo em uma pessoa apenas na raid, no máximo duas ao mesmo tempo (geralmente os tanks). Isso porque o custo de mana de PP:E era muito alto, então abusar dele acabava te deixando sem mana. Mas no WoD, com a quase eliminação do smart heal, eles diminuíram bastante o custo de mana de PP:E, para “compensar”. E assim deixamos de ser uma spec com um smart heal forte, mas continuamos com efeitos fortes de absorção: antes com Couraça Espiritual, agora com PP:E. Hoje em dia um sacerdote disciplina passa boa parte de seu tempo aplicando esse escudo em todo mundo, se possível. Na média, 60% da “cura” de um priest disc vêm de absorções (PP:E, Égide Divina, etc).

Absorções são um efeito interessante e na minha opinião adicionam mais coisas à jogabilidade, mas depender muito delas sempre foi o problema dessa spec. Toda vez que um jogador recebe dano, o dano será descontado de um efeito de absorção de dano antes de que qualquer outra forma de cura seja considerada. E por causa disso, esta spec sempre será um pouco “OP”, enquanto depender mais de absorção do que de outros efeitos. Felizmente, isso está mudando bastante no Legion. Vamos esperar para ver o resultado.

Concluindo, queria apenas deixar este comentário: no WoD disciplina não ficou tão OP quanto no MoP, mas ainda assim ficou um pouco desequilibrado, mantendo mais sacerdotes healers jogando essa spec do que a de sagrado. Além disso, a spec ficou mais chata e repetitiva de se jogar, na minha opinião: no MoP era bem OP mas pelo menos era divertida. No começo desta expansão (WoD) fiz um post comentando sobre as mudanças em disciplina, e comentei como ela tinha ficado mais “chata”, principalmente com a perda de vários efeitos passivos e “coisas” que você tinha que “vigiar” para melhorar e manter seu nível de cura. Este post antigo está aqui, se tiver interesse.

Sagrado

Sacerdotes sagrados mudaram pouco, em termos de mecânicas da spec, do MoP para o WoD. A maior mudança foi a redução da recarga dos chacras para 10s, o que ajudou bastante para tornar a jogabilidade mais dinâmica. Infelizmente, Palavra Sagrada: Santuário continuou curando muito pouco, em comparação a efeitos similares de outros healers.

Como comentei no começo, menos pessoas jogaram de Sagrado do que de Disciplina, como sempre devido ao desbalanceamento entre as duas specs. Mas sagrado foi mais viável nessa expansão do que na anterior.

Durante o primeiro tier de raid (Malho Imponente e Fundição Rocha Negra), quando a quantidade de atributos disponível nos itens era menor e portanto o jogador tinha acesso a menos espírito e menos regeneração de mana, o sacerdote sagrado precisava jogar de forma mais “conservadora”: tipicamente se mantendo no Chacra: Santuário para tirar proveito da recarga menor de Círculo de Cura, espalhando Renovar em tantos aliados quantos possível, e usando curas diretas quando necessário. À medida em que mana deixava de ser restrição, ele podia usar mais Cura Célere e tirar mais proveito de Serendipidade, que continuou sendo uma mecânica importante da spec.

No segundo tier de raid (Cidadela Fogo do Inferno), com acesso a itens com mais atributos e mais espírito, o sacerdote sagrado pôde passar a adotar outros estilos de jogo. Por exemplo, abrir mão dos talentos Dobramentes e Palavra de Poder: Consolo para regeneração de mana, e passar a usar Torrente de Luz. Isso deixou a spec ainda mais dinâmica; uso constante de Cura Céleres instantâneos, aumentando a quantidade de cura e abusando mais de Serendipidade.

Além disso, o sacerdote podia aumentar ainda mais sua cura ao custo de mais mana, como por exemplo usando os glifos de Cura Vinculada e de Círculo de Cura, que passaram a ser mais populares do que antes. O glifo de Cura Vinculada é um uso interessante, pois permitia ao sacerdote curar uma outra pessoa além do alvo (e de si mesmo), enquanto também gerava stacks de Serendipidade, para depois gastar com Prece de Cura.

No geral, achei esta spec muito mais divertida de se jogar do que Disciplina, ainda que ela tenha ficado um pouco “à sombra” da outra spec. Felizmente não o suficiente para que ela ficasse inviável. Pelas mudanças que vejo no Legion, espero que esta spec continue divertida de se jogar e fique ainda mais dinâmica.

Sombra

Como já comentei, joguei bem pouco de Sombra nesta expansão, então o comentário abaixo tem bem pouco da minha experiência pessoal e mais da experiência dos outros, expressa em diversos fóruns.

Saindo do MoP e vindo para o WoD, a mecânica básica de jogo do sacerdote sombra permaneceu a mesma: acumular orbes sombrios e gastá-los com Peste Devoradora, que continuou sendo nossa magia mais forte. Exceto por um detalhe: os talentos nível 100. O talento nível 100 escolhido por você – Clareza do Poder, Espíritos Auspiciosos ou Entropia do Caos – mudava tanto a sua rotação, que praticamente poderiam ser considerados “sub-specs” de Sombra. E no começo da expansão eu pensei neles exatamente como escolhas de “sub-spec”; afinal houve pelo menos uma outra classe que também ganhou um talento similar, os guerreiros proteção, com o talento Gladiador, que permitia ao jogador usar uma spec de tank, com equipamentos de tank, mas jogar de DPS. Eu cheguei a pensar que isso seria uma tendência que continuaria na expansão seguinte, mas pelo que já se viu das prévias e do alfa do Legion, essa “coisa” de “sub-specs” foi deixada para trás.

Enfim, voltemos a falar de sombra. Um dos três talentos nível 100 – Entropia do Caos – foi considerado inútil a expansão inteira (e olha que levou um buff de 80% a mais de dano no patch 6.1), e ninguém jogou com ele de forma competitiva, salvo alguns poucos que insistiram em jogar com ele, e mesmo assim não obtiveram bons resultados.

Já os outros dois talentos são um exemplo perfeito do que eu quis dizer com “sub-spec”. Clareza do Poder (CdP) tem a intenção de deixar você jogar uma rotação sem dots, focando mais em usar Aguilhão Mental e Impacto Mental. Já Espíritos Auspiciosos (EA) tira proveito do seu dot principal, Palavra Sombria: Dor, para gerar orbes sombrios. A princípio cada sacerdote sombra deveria escolher um desses talentos conforme gostasse mais do estilo de cada um, e houve casos de jogadores que preferiam um deles e detestavam o outro, jogando com apenas um desses talentos a expansão inteira, e isso era viável, contanto que o jogador conseguisse equipamento com os atributos adequados. Também foi possível mudar de talento conforme o tipo de luta: CdP para lutas de um alvo só, EA para lutas com muitos alvos. Alguns sacerdotes tinham dois conjuntos de itens que trocavam conforme o talento usado.

Mas para os preocupados em aumentar o dano causado ao máximo, houve momentos na expansão em que um talento foi mais preferencial que o outro – mas mesmo assim houve quem continuasse jogando com o talento de sua preferência, e mesmo assim dando bons resultados. No começo da expansão, a maioria usou Clareza do Poder, mesmo no caso de lutas com muitos alvos, pois para tirar proveito real de Espíritos Auspiciosos, é preciso acumular o atributo crítico (o recomendável era um mínimo de 20% de crítico para esse talento começar a ficar viável), mesmo em lutas com muitos alvos. Por esse motivo, durante a primeira parte do tier 17, a raid Malho Imponente, em geral os sacerdotes sombra usaram Clareza do Poder. E cabe aqui um comentário: a fim de maximizar o dano possível, surgiu um estilo de uso desse talento que foi apelidado em inglês de CoP dot-weaving, que misturava a rotação sem dots de CdP com o uso de dots durante Peste Devoradora. Para detalhes, veja este post antigo. Na época essa era a melhor forma de aumentar o dano causado, e muitos sacerdotes sombra usaram essa rotação durante Malho Imponente, mesmo os que prefeririam jogar com o talento EA.

Já na segunda metade do tier 17, a raid Fundição Rocha Negra, os jogadores já tinham acesso a itens com crítico suficiente, o que tornou o talento Espíritos Auspiciosos viável. Daí pra frente o uso dos talentos se dividiu: houve quem usasse apenas um ou apenas outro, conforme o gosto pessoal, e houve quem usasse os dois, trocando conforme a luta, e mantendo dois conjuntos diferentes de itens com atributos diferentes. O uso de CdP continuou priorizando a rotação dotweaving.

Por fim, no último tier de raid (Cidadela Fogo do Inferno), como é típico nos últimos tiers de raid de cada expansão, a quantidade de atributos disponíveis nos itens foi bem maior, viabilizando todos os estilos de jogo. Os amantes de EA puderam acumular crítico suficiente para ter um dano bom até em alvo único; os seguidores de CdP puderam ter até mais de um conjunto de itens, com atributos diferentes, caso quisessem focar em dano de alvo único ou para mais de um alvo (vide as listas de itens Best in Slot do HowToPriest, de acordo com o talento). O aumento na quantidade de aceleração disponível também fez com que o estilo de jogo dotweaving para CdP fosse abandonado, deixando a rotação de CdP mais simples (vide este artigo no HowToPriest).

Mas no caso deste tier 18, ainda tem um elemento a mais: o último boss, Arquimonde, tinha berloques específicos para cada classe, com bônus específicos para cada spec. O berloque para sacerdotes, Repúdio da Guerra, traz um efeito que muda bastante a rotação do sacerdote sombra:

O dano de Açoite Mental aplica Fadiga Mental ao alvo, aumentando em X% o dano recebido de feitiços mentais por 10 s, acumulando até 5 vezes.

O uso desse berloque favorece pesadamente o uso de Clareza do Poder e Insanidade juntos; optando pelo uso dele, o sacerdote sombra muda mais uma vez a sua rotação, ainda que ligeiramente. O foco não é apenas juntar orbes sombrios e gastá-los, mas também manter o debuff do berloque, Fadiga Mental, e tirar proveito desse debuff para aumentar o dano de Impacto Mental, Aguilhão Mental e Açoite Mental/Insanidade.

Aliás, com esse berloque, pode-se dizer que o DPS dos sacerdotes sombra saiu de mediano (em comparação a outros ranged DPS) para realmente competitivo, neste fim de expansão.

Conclusão

Todas as três specs de sacerdote se mantiveram viáveis durante toda a expansão (considerando apenas PvE). Mesmo no caso da “rivalidade” entre disciplina e sagrado, foi possível jogar e se manter competitivo jogando sua spec preferida. (Obs: eu jogo essas duas specs pessoal, quando digo “rivalidade” não quero incitar nenhuma briga 😉 )

A expansão teve seus altos e baixos, como qualquer outra, mas mesmo assim foi uma boa expansão para sacerdotes de qualquer spec. Aguardemos agora o Legion e suas novidades – artefatos, novos talentos e magias, talentos exclusivos para PvP, e outros. Bom jogo a todos, e que esta classe continue sendo divertida para vocês!