Com o anúncio de World of Warcraft: Legion, veio também a informação de que nessa nova expansão cada classe e spec ganhará um arma poderosa chamada de Artefato, e que essa arma irá “evoluir” com o jogador (similar a um sistema de talentos próprio). E com esse anúncio, imediatamente os fãs mais antigos começaram a especular se os artefatos para Sacerdotes seriam os cajados Bênção e Anátema. Mas de onde vem a referência a estes cajados, e porque alguns sacerdotes os consideram tão importantes? Vejamos a história deles.
Quase lendárias
Havia uma missão (e alguns itens especiais) no WoW original (“vanilla” ou clássico) específica para a classe sacerdote que dava ao jogador que a completasse o item Bênção, um cajado com atributos muito bons para a época, servindo para ambas as specs de healer (Disciplina e Sagrado). O item não era lendário, era de qualidade épica apenas, mas dada a dificuldade em se completar a missão e conseguir os itens necessários, ele dava um certo “prestígio” ao jogador que o possuía. Raids subsequentes trouxeram itens que eram ainda melhores que esse cajado, mas muitos jogadores dessa época guardaram esse item assim mesmo, fosse por nostalgia, gosto estético, ou apenas como símbolo de prestígio. Um detalhe interessante desse cajado é que ao ser “usado” (depois de equipado, clica-se no item com o botão direito), ele se transformava em outro item, o cajado Anátema, que servia para a spec de Sombra. Ou seja, em um único item você satisfazia todas as specs de sacerdote, com direito a visuais diferentes. Para os jogadores que estão lendo este artigo, já aviso que infelizmente este item não pode mais ser obtido, pois a missão e os itens necessários foram removidos no lançamento do Cataclismo, quando os continentes principais de Azeroth foram reformulados e as missões refeitas.
Até os nomes dos itens são apropriados à classe sacerdote: Bênção é uma palavra conhecida (o nome original em inglês é Benediction), enquanto que Anátema (original Anathema) significa “Pena ou tipo de maldição que se efetiva com a expulsão de uma pessoa do convívio religioso ou da própria igreja; excomunhão.” (fonte).
Além disso, o cajado é bastante icônico; apesar de ser diferente do cajado “típico” de um sacerdote, como o usado no ícone da nossa classe (e que existe no jogo em vários modelos e cores: existe no jogo em vários modelos, inclusive em outras cores), ele se parece com uma versão “glorificada” do mesmo. Esse modelo de cajado também é usado no jogo por alguns PNJs (NPCs) importantes, como por exemplo Ishanah (Alta-sacerdotisa dos Aldor).
História
A história (lore) desse cajado é bem contada neste artigo em inglês. Abaixo, minha tradução:
Uma vez, nos tempos antes de World of Warcraft, houve uma praga que varreu o reino de Lordaeron com uma rapidez mortal. Esta praga, a praga da morte-vida (undeath) se espalhou pela dristribuição de grãos contaminados a várias cidades e aldeias. Depois que o grão era ingerido, aqueles azarados demais em comê-lo morriam – mas o horror não acabava aí. Depois da morte, os mortos se erguiam novamente, uma ferramenta para os exércitos em ascensão do Flagelo.
O príncipe Arthas Menethil foi enviado para investigar os relatos desta estranha doença, junto com Jaina Proudmoore. Os dois descobriram a conspiração dos grãos e o homem por trás dela – o necromante Kel’Thuzad. Apesar de Arthas ter matado Kel’Thuzad, o grão contaminado já havia sido distribuído para várias cidades de Lordaeron, incluindo a maior delas, Stratholme.
O que se seguiu foi um massacre, mas não pelas mãos do Flagelo. Príncipe Arthas, determinado a conter a propagação da praga, ordenou aos Cavaleiros do Punho de Prata que expurgassem a cidade (matando os habitantes) antes que a praga tivesse chance de se espalhar. Uther e Jaina se recusaram, e Arthas debandou os Cavaleiros do Punho de Prata, executando a tarefa ele próprio com os poucos soldados que seguiram suas ordens. Os cidadãos de Stratholme foram sistematicamente assassinados, quer eles tivessem comido dos grãos contaminados ou não.
E não muito longe de Stratholme, no alto de uma colina, estava uma sacerdotisa solitária, desesperadamente tentando curar aqueles que fugiam da carnificina. Irremediavelmente em desvantagem, ela corajosamente se manteve firme até que finalmente as multidões do Flagelo erguidas dos camponeses mortos que ela tão valentemente tentou salvar tiraram a sua vida.
A missão que dava aos jogadores o cajado Bênção começava em Núcleo Derretido, com o penúltimo chefe, Senescal Executus. Só isso já significava que você teria de ser capaz de fazer essa raid, pelo menos até o penúltimo chefe. Ao morrer ele deixava um baú, e havia uma chance de nele estar o item O Olho da Divindade. Esse item dava uma descrição da batalha vivida pela sacerdotisa, Eris Abrigoardente. O jogador de posse desse item deveria ir para as colinas a oeste de Stratholme, e com esse item no inventário ele conseguiria ver o fantasma da sacerdotisa, ainda em pé na colina onde ela morreu. Ela então iria te passar uma missão: tentar curar com sucesso um grupo de fantasmas de camponeses que andava em direção à “luz”, evitando que qualquer um deles “morresse” no caminho, e ao mesmo tempo atacando mortos-vivos que apareciam. Essa seria uma forma de trazer redenção à sacerdotisa que falhou ao tentar salvar os camponeses durante o massacre em Stratholme.
Só para constar: eu fiz essa missão no final do Wrath of the Lich King, usando items de Cidadela da Coroa de Gelo, e mesmo assim essa missão era muito difícil. Apesar da missão ter sido criada para personagens no nível 60, e eu estar no nível 80 com um item level muito maior ao da época, não bastava curar loucamente; mesmo usando Cura Célere e curas em área, os fantasmas morriam mais rápido do que você conseguia curar. O truque era “dispelar” o debuff de doença dos fantasmas. Mas mesmo assim eles eram tantos e o debuff era reaplicado tão rapidamente que você tinha que ser muito rápido para conseguir – eu tive que tentar várias vezes até dar certo. Imagine para um personagem nas condições originais, no nível 60. E mais ainda: você não podia receber ajuda, nem estar em grupo, nem outra pessoa poderia tentar ajudar você a curar os fantasmas – se isso acontecesse eles e a sacerdotisa desapareciam e você tinha que esperar ela reaparecer para tentar a missão de novo. Só dava para fazer sozinho; era um teste de habilidade para o sacerdote, e para ele apenas.
Uma vez completada essa missão, Eris dava ao jogador o item Lasca de Nordrassil, um pedaço da antiga Árvore do Mundo Nordrassil (não é explicado como um item desses estava em posse de uma sacerdotisa).
Para obter o cajado final, ainda faltava um terceiro item: Visão das Sombras. Luz e Sombras se complementam no universo de Warcraft, então a combinação desses três itens possibilitava a criação do cajado de grande poder. Este item só “dropava” de um demônio poderoso. Ele podia ser obtido com alguns demônios “elite” na parte sul de Barreira do Inferno ou na parte sul de Hibérnia, que eram regiões ocupadas por demônios oriundos da última tentativa de invasão a Azeroth, durante o Warcraft III (isso na época; depois do Cataclismo essas regiões foram refeitas). A chance desse item sair era muito pequena, mas felizmente ele não era vinculado ao pegar e portanto podia ser encontrado até na casa de leilão.
Finalmente, de posse dos três itens, o jogador unia os três com Equilíbrio entre Luz e Sombra, criando o cajado Bênção. Por causa de todo o trabalho e tempo envolvidos, como podem ver, dá para entender porque os sacerdotes do tempo do WoW “vanilla” consideravam esse cajado um símbolo de prestígio para a classe.
Sem retorno (fora do Clássico)
Infelizmente para quem não pegou este cajado na época, apesar das especulações atuais aparentemente eles não irão retornar como itens artefatos na próxima expansão, Legião. Dentre os últimos comentários da Blizzard, houve um especificamente sobre eles (tradução minha abaixo a partir desta fonte):
Existem armas mais ‘legais’ do que Bênção e Anátema para Artefatos de sacerdotes.
Portanto, a possibilidade de que estes cajados retornem é muito pequena. Quem sabe como um item no Mercado Negro? De qualquer forma, os artefatos de Legião poderão ser transmogrificados, então se um dos artefatos de sacerdote for um cajado, e você for um dos sortudos que ainda tem a Bênção/Anátema guardados no seu banco, poderá exibi-los na próxima expansão 🙂
Retorno!
Estou atualizando este artigo depois do lançamento do WoW Clássico, em 26/08/19. Para quem estiver lendo este artigo depois desta data, agora será possível mais uma vez obter este item no WoW Clássico. Boa sorte!
Muito bom mesmo
Excelente artigo. Parabéns pelo trabalho de reunir essas informações.